O livro do profeta Isaías é uma das obras mais ricas e profundas da Bíblia. Ele aborda temas como o juízo e a salvação de Deus, a esperança messiânica, a restauração de Israel e a missão universal da igreja. Entre os muitos assuntos que Isaías trata, um que se destaca é o do jejum.
O jejum é uma prática espiritual que consiste em abster-se de alimentos ou de outras coisas por um período de tempo, com o objetivo de se dedicar à oração, ao arrependimento, à adoração ou à solidariedade. O jejum é uma forma de expressar a nossa dependência de Deus, a nossa humildade diante dele e o nosso desejo de agradá-lo.
No entanto, o jejum pode se tornar uma mera formalidade religiosa, sem nenhum efeito na vida espiritual ou na sociedade. Foi o que aconteceu com o povo de Israel no tempo de Isaías. Eles jejuavam, mas não viviam de acordo com a vontade de Deus. Eles jejuavam, mas oprimiam os pobres, exploravam os trabalhadores, brigavam entre si e se afastavam de Deus.
Por isso, Deus enviou o seu profeta Isaías para confrontar o povo com a sua palavra. No capítulo 58, Isaías apresenta o jejum que agrada a Deus, que não se limita a uma abstinência externa, mas que implica em uma transformação interna e social. Neste artigo, vamos analisar o que Isaías nos ensina sobre o jejum que agrada a Deus e como podemos aplicá-lo em nossa vida.
O contraste entre o jejum falso e o verdadeiro (Is 58:1-5)
O capítulo 58 começa com uma ordem de Deus para Isaías: “Grita forte, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados” (Is 58:1). Deus quer que o seu povo ouça a sua voz e reconheça os seus erros. Ele quer que o seu povo se arrependa e se converta.
O povo de Israel, porém, não entende o motivo da repreensão divina. Eles se consideram religiosos e fiéis. Eles jejuam e oram regularmente. Eles perguntam a Deus: “Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta?” (Is 58:3). Eles acham que estão fazendo tudo certo, mas não percebem que estão fazendo tudo errado.
Deus, então, responde ao povo, mostrando o contraste entre o jejum falso e o verdadeiro. O jejum falso é aquele que é feito por interesse próprio, por hipocrisia, por ostentação ou por obrigação. O jejum falso é aquele que não muda o coração nem o comportamento do jejuador. O jejum falso é aquele que diz: “Eis que, no dia em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. Eis que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto” (Is 58:3-4).
O jejum verdadeiro, por outro lado, é aquele que é feito por amor a Deus, por sinceridade, por humildade e por obediência. O jejum verdadeiro é aquele que muda o coração e o comportamento do jejuador. O jejum verdadeiro é aquele que diz: “Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao SENHOR?” (Is 58:5).
Deus, então, questiona o povo: “Acaso, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo?” (Is 58:6). Deus revela que o jejum que ele deseja é aquele que resulta em justiça, libertação, compaixão e solidariedade. Deus revela que o jejum que ele aprova é aquele que reflete o seu caráter e a sua vontade.
As bênçãos do jejum que agrada a Deus (Is 58:7-12)
Depois de contrastar o jejum falso e o verdadeiro, Isaías passa a descrever as bênçãos que Deus promete aos que praticam o jejum que agrada a ele. São bênçãos que envolvem tanto a vida pessoal quanto a vida comunitária, tanto a dimensão espiritual quanto a dimensão material, tanto o presente quanto o futuro.
A primeira bênção é a cura: “Então, romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua retaguarda” (Is 58:8). Deus promete restaurar a saúde física, emocional e espiritual dos que jejuam com sinceridade. Deus promete iluminar, proteger e guiar os que jejuam com humildade.
A segunda bênção é a resposta: “Então, clamarás, e o SENHOR te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaça, o falar injurioso” (Is 58:9). Deus promete atender as orações dos que jejuam com obediência. Deus promete estar presente e pronto a socorrer os que jejuam com fidelidade.
A terceira bênção é a provisão: “Se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. O SENHOR te guiará continuamente, fartará a tua alma até em lugares áridos e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas jamais faltam” (Is 58:10-11). Deus promete suprir as necessidades dos que jejuam com generosidade. Deus promete dar abundância, alegria e força aos que jejuam com compaixão.
A quarta bênção é a restauração: “Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável” (Is 58:12). Deus promete reconstruir o que foi destruído pelos pecados dos que jejuam com arrependimento. Deus promete dar um novo propósito, uma nova esperança e uma nova missão aos que jejuam com justiça.
A exortação à santificação do sábado (Is 58:13-14)
O capítulo 58 termina com uma exortação à santificação do sábado, o dia do Senhor. O sábado era um dia especial para o povo de Israel, pois era um dia de descanso, de adoração, de comunhão e de lembrança da obra de Deus. O sábado era um sinal da aliança entre Deus e o seu povo, um símbolo da sua graça e da sua fidelidade.
No entanto, o povo de Israel também havia profanado o sábado, transformando-o em um dia de prazer, de negócios, de opressão e de idolatria. Eles não honravam a Deus nem respeitavam o seu dia. Eles não se deleitavam no Senhor nem se alegravam na sua salvação.
Por isso, Deus, por meio de Isaías, faz um apelo ao povo: “Se desviares o teu pé do sábado, de fazeres a tua vontade no meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no SENHOR. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do SENHOR o disse” (Is 58:13-14).
Deus promete que, se o povo santificar o sábado, ele terá prazer no Senhor, ele terá comunhão com Deus, ele terá alegria e paz, ele terá vitória e prosperidade, ele terá a bênção da aliança. Deus promete que, se o povo guardar o seu dia, ele guardará o seu povo.
Reflexão
O capítulo 58 de Isaías nos ensina sobre o jejum que agrada a Deus, que não é apenas uma prática externa, mas uma atitude interna e social. Deus quer que o nosso jejum seja acompanhado de justiça, libertação, compaixão e solidariedade. Deus quer que o nosso jejum reflita o seu caráter e a sua vontade.
Deus também nos ensina sobre a santificação do sábado, que não é apenas uma obrigação religiosa, mas uma oportunidade de comunhão com ele. Deus quer que o nosso sábado seja um dia de descanso, de adoração, de alegria e de lembrança da sua obra. Deus quer que o nosso sábado seja um sinal da sua graça e da sua fidelidade.
Que possamos praticar o jejum e o sábado que agradam a Deus, e assim experimentar as suas bênçãos em nossa vida. Que possamos nos dedicar a Deus com todo o nosso ser, e assim glorificá-lo com todo o nosso viver. Que possamos nos aproximar de Deus com fé e amor, e assim desfrutar da sua presença e do seu favor.