A carta de Tiago é um dos livros mais práticos do Novo Testamento, que trata de vários assuntos relacionados à vida cristã, como a provação, a tentação, a sabedoria, a língua, a humildade, a paciência, a oração, e outros. Um dos temas centrais da carta é a relação entre a fé e as obras, que Tiago aborda de forma clara e contundente, especialmente no capítulo 2. Tiago quer mostrar aos seus leitores que a fé verdadeira não é apenas uma questão de crença, mas também de conduta, e que as obras são a evidência e a expressão da fé genuína. Neste post, vamos ver como Tiago desenvolve esse tema em sua carta, e como ele se aplica à nossa vida hoje.
A fé sem obras é morta
Tiago começa o seu argumento sobre a fé e as obras com uma pergunta provocativa: “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo?” (Tiago 2:14). Tiago está se dirigindo a pessoas que afirmam ter fé em Deus, mas que não demonstram isso na prática, ou seja, que não fazem boas obras. Tiago chama essa fé de morta, ou seja, de inútil, de vazia, de falsa. Ele diz que essa fé não pode salvar, ou seja, não pode levar à salvação eterna, nem à comunhão com Deus.
Tiago ilustra o seu ponto com dois exemplos: o da caridade e o da ortodoxia. No primeiro, ele fala de um irmão ou irmã que está necessitando de roupas e de alimento, e que recebe de outro cristão apenas palavras de despedida, sem nenhuma ajuda material. Tiago pergunta: “De que adianta isso?” (Tiago 2:16). Ele mostra que a fé que não se manifesta em amor ao próximo é uma fé sem valor, sem fruto, sem vida. No segundo, ele fala de alguém que crê que Deus é um só, o que é uma verdade bíblica fundamental, mas que não se diferencia dos demônios, que também creem nisso, e estremecem. Tiago diz: “Queres provar, ó homem insensato, que a fé sem as obras é inoperante?” (Tiago 2:20). Ele mostra que a fé que não se manifesta em obediência a Deus é uma fé sem sentido, sem força, sem vida.
Tiago conclui o seu argumento com uma afirmação categórica: “Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2:26). Ele compara a fé e as obras com o corpo e o espírito, que são elementos essenciais para a vida humana. Ele diz que assim como o corpo sem o espírito é um cadáver, assim também a fé sem as obras é uma fé morta. Ele quer dizer que a fé e as obras são inseparáveis, e que uma depende da outra para existir e para funcionar.
A fé com obras é viva
Tiago não nega a importância da fé, nem a substitui pelas obras. Ele reconhece que a fé é o fundamento da salvação, e que sem ela é impossível agradar a Deus (Hebreus 11:6). Ele também reconhece que a fé é um dom de Deus, e que não vem de nós, mas de sua graça (Efésios 2:8). O que Tiago quer enfatizar é que a fé verdadeira não é apenas um assentimento intelectual, mas também uma atitude existencial, que envolve todo o ser humano, e que se expressa em ações concretas. Ele quer mostrar que a fé com obras é a fé viva, ou seja, a fé que tem valor, que tem fruto, que tem vida.
Tiago ilustra o seu ponto com dois exemplos: o de Abraão e o de Raabe. No primeiro, ele fala do patriarca Abraão, que é chamado de pai da fé, e que foi justificado por Deus por causa da sua fé (Gênesis 15:6). Tiago diz que Abraão foi justificado também pelas obras, quando ofereceu o seu filho Isaque sobre o altar, em obediência a Deus (Gênesis 22:1-18). Tiago diz que nesse ato, a fé de Abraão cooperou com as suas obras, e que a sua fé se aperfeiçoou pelas obras. Ele diz que se cumpriu a Escritura que diz que Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e que ele foi chamado amigo de Deus (Tiago 2:21-23). Ele mostra que a fé de Abraão não foi uma fé estática, mas uma fé dinâmica, que o levou a confiar em Deus, e a fazer a sua vontade, mesmo diante do impossível. Ele mostra que a fé de Abraão foi uma fé viva, que o tornou justo e amigo de Deus.
No segundo, ele fala da prostituta Raabe, que acolheu os espias de Israel, e os ajudou a escapar dos seus inimigos, em Jericó (Josué 2:1-21). Tiago diz que Raabe foi justificada pelas obras, quando recebeu os mensageiros, e os fez sair por outro caminho. Ele diz que assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta (Tiago 2:24-26). Ele mostra que a fé de Raabe não foi uma fé passiva, mas uma fé ativa, que a levou a reconhecer o Deus de Israel, e a agir em favor do seu povo, mesmo diante do perigo. Ele mostra que a fé de Raabe foi uma fé viva, que a tornou justa e parte do povo de Deus.
Tiago conclui o seu argumento com uma afirmação categórica: “Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé” (Tiago 2:24). Ele não está contradizendo o ensino de Paulo, que diz que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei (Romanos 3:28). Ele está complementando o ensino de Paulo, que diz que a fé que justifica é a fé que atua pelo amor (Gálatas 5:6). Ele está dizendo que a fé que justifica é a fé que se manifesta em obras, e que as obras que justificam são as obras que procedem da fé. Ele está dizendo que a fé e as obras são duas faces da mesma moeda, e que uma não existe sem a outra.
A fé e as obras na nossa vida
Diante de tudo isso, como devemos aplicar o ensino de Tiago sobre a fé e as obras na nossa vida? A Bíblia nos ensina alguns princípios sobre a nossa relação com a fé e as obras, que devemos observar e praticar. Vejamos alguns deles:
- Devemos examinar a nossa fé, e ver se ela é uma fé viva, ou uma fé morta. Se a nossa fé não produz obras, se ela não se expressa em amor a Deus e ao próximo, se ela não se evidencia em obediência à sua Palavra, se ela não se reflete em frutos de justiça e de santidade, então ela é uma fé morta, e não pode nos salvar. Mas se a nossa fé produz obras, se ela se expressa em amor a Deus e ao próximo, se ela se evidencia em obediência à sua Palavra, se ela se reflete em frutos de justiça e de santidade, então ela é uma fé viva, e pode nos salvar.
- Devemos cultivar a nossa fé, e ver se ela cresce e se fortalece. Se a nossa fé é pequena, fraca, e vacilante, se ela é facilmente abalada pelas circunstâncias, se ela é frequentemente vencida pela dúvida, pelo medo, e pela incredulidade, então ela precisa ser alimentada, exercitada, e aperfeiçoada. Mas se a nossa fé é grande, forte, e firme, se ela é capaz de resistir às provações, se ela é constantemente vitoriosa pela confiança, pela coragem, e pela esperança, então ela precisa ser mantida, celebrada e compartilhada.
- Devemos, portanto, buscar meios de fortalecer a nossa fé através da oração, do estudo da Palavra de Deus, da comunhão com outros crentes, e da participação ativa na missão da igreja. Essas práticas nos ajudam a aprofundar o nosso relacionamento com Deus e a aumentar a nossa confiança nele, o que, por sua vez, se reflete em um estilo de vida que evidencia a nossa fé por meio de obras.
- Devemos também ser sensíveis às necessidades ao nosso redor e estar dispostos a agir em amor e serviço. A fé que se expressa em obras não é apenas uma questão de evitar o mal, mas também de fazer o bem, especialmente para aqueles que estão em necessidade. Seja por meio de ações de caridade, de justiça social, de apoio emocional ou de serviço comunitário, as obras de fé são uma resposta concreta ao amor de Deus por nós e refletem o seu amor pelo mundo. Essas ações não são meras obrigações morais, mas expressões genuínas de uma fé que opera pelo amor.
- Além disso, devemos lembrar que as obras de fé não são meios de ganhar a salvação, mas são evidências de uma salvação já recebida pela fé em Jesus Cristo. As boas obras são frutos da nossa gratidão a Deus e do poder transformador do Espírito Santo em nossas vidas. Elas são sinais visíveis da realidade invisível da nossa fé, que nos motivam a viver de maneira que honre a Deus e sirva ao próximo.
Devemos demonstrar a nossa fé pelas nossas obras
A fé e as obras não são opostas, nem independentes, mas complementares e interdependentes. A fé é a raiz, e as obras são o fruto. A fé é a causa, e as obras são o efeito. A fé é o princípio, e as obras são a prática. A fé é o que cremos, e as obras são o que fazemos. A fé é o que somos, e as obras são o que mostramos.
Tiago diz que a fé sem obras é morta, mas ele também diz que a fé com obras é perfeita. Ele diz que a fé se aperfeiçoa pelas obras, ou seja, que as obras completam e confirmam a fé. Ele diz que as obras justificam a fé, ou seja, que as obras provam e evidenciam a fé. Ele diz que as obras são a manifestação e a expressão da fé.
Tiago não está dizendo que as obras são necessárias para ganhar a salvação, mas que as obras são necessárias para demonstrar a salvação. Ele não está dizendo que as obras são o fundamento da fé, mas que as obras são o resultado da fé. Ele não está dizendo que as obras são o meio da graça, mas que as obras são o fruto da graça.
Tiago está dizendo que a fé que salva é a fé que se vê, que se sente, que se ouve, que se toca, que se cheira, que se saboreia. Ele está dizendo que a fé que salva é a fé que fala, que anda, que age, que serve, que ama, que obedece. Ele está dizendo que a fé que salva é a fé que vive, que respira, que pulsa, que brilha, que aquece, que transforma.
Conclusão
A mensagem de Tiago para os cristãos práticos é que a fé e as obras são inseparáveis, e que uma depende da outra para existir e para funcionar. Ele nos ensina que a fé sem obras é morta, e que a fé com obras é viva. Ele nos ensina que devemos examinar, cultivar, e demonstrar a nossa fé pelas nossas obras. Ele nos ensina que a fé e as obras são duas faces da mesma moeda, e que uma não existe sem a outra.
Que possamos aprender com Tiago, e sermos cristãos que vivem a fé, e que praticam as obras. Que possamos ser cristãos que amam a Deus, e que amam o próximo. Que possamos ser cristãos que glorificam a Deus, e que edificam a Igreja. Que possamos ser cristãos que honram a Deus, e que testemunham de Cristo. Que o Senhor nos abençoe, e nos capacite, com a sua graça, e com o seu Espírito.