O Desafio de Encontrar o Evangelho em 2 Crônicas
Ao abordarmos 2 Crônicas, nos deparamos com um texto que, à primeira vista, pode parecer tão desinteressante quanto uma lista telefônica. Esse livro, parte do Antigo Testamento, apresenta uma narrativa que, ao contrário de seu antecessor, 1 Crônicas, inicia com ação imediata, não uma longa lista de nomes. No entanto, mesmo neste cenário repleto de ação, não é imediatamente evidente como o livro aponta para Jesus e o evangelho.
Para muitos, 2 Crônicas poderia ser comparado à atualização de uma lista telefônica – uma nova versão que não adiciona emoção ou interesse. A dificuldade está em discernir a presença e a relevância do evangelho em um texto que, à primeira vista, parece distante das questões espirituais centrais do cristianismo.
O Evangelho no Antigo Testamento
Antes de mergulharmos em 2 Crônicas, é crucial compreender o que constitui o evangelho no contexto do Antigo Testamento. JI Packer resume o evangelho de maneira simples: “Deus salva pecadores”.
Esta definição é o ponto de partida para duas estruturas explicativas, cada uma com quatro pontos principais. A primeira é Deus—Homem—Cristo—Resposta, focando na relação entre o caráter divino, a falha humana, a intervenção de Cristo e nossa resposta a essa intervenção.
A segunda estrutura é narrativa: Criação—Queda—Redenção—Glória. Ela acompanha a história da humanidade desde a criação e queda no pecado até a redenção por Cristo e a glória final prometida.
Ambas as estruturas visam contextualizar o papel de Jesus como o cumprimento das promessas e profecias do Antigo Testamento, oferecendo um caminho para entender como cada parte da Bíblia, incluindo livros como 2 Crônicas, contribui para a história do evangelho.
A Conexão de 2 Crônicas com o Evangelho
2 Crônicas começa no ponto crucial da morte do Rei Davi, um evento significativo que levanta questões sobre as promessas messiânicas. Com a ascensão de Salomão, o primeiro rei na linha sucessória de Davi, surge a esperança de que ele poderia ser o Resgatador de Israel. Diferente dos livros de 1 e 2 Reis, 2 Crônicas concentra-se no Reino do Sul, Judá, deixando de fora a história do Reino do Norte.
Esta escolha serve para ensinar uma lição importante para a geração que estava retornando do exílio: seguir o exemplo dos bons reis e ser abençoado ou seguir o caminho dos maus reis e ser amaldiçoado. Esta narrativa não apenas conta a história dos reis de Judá, mas também serve como uma reflexão sobre as escolhas e suas consequências, tanto para as gerações passadas quanto para as futuras.
O final de 2 Crônicas é peculiarmente marcante. Termina com a proclamação de Ciro, um rei pagão, permitindo que os judeus retornem à sua terra. O mais intrigante é que o livro termina com uma frase inacabada, simbolizando a contínua expectativa do Messias. Este final aberto mantém viva a esperança de um novo rei, um que lideraria um tipo diferente de exílio, representando a esperança de ascensão e restauração.
2 Crônicas 7:14 e a Mensagem do Evangelho
O versículo 2 Crônicas 7:14 é frequentemente citado e destaca-se como um dos mais compartilhados da Bíblia. Ele ocorre no contexto da construção do Templo por Salomão, um momento em que ele busca a aprovação e a presença de Deus. Este versículo é uma promessa divina de ouvir e responder ao arrependimento e à busca sincera por Deus, um tema recorrente em toda a Escritura.
Neste contexto, Deus utiliza a linguagem da aliança, similar à encontrada em Deuteronômio, estabelecendo as bênçãos da obediência e as maldições da desobediência. O enfoque de 2 Crônicas não está apenas nos eventos históricos, mas também na fidelidade a Deus e nas consequências dessa fidelidade (ou falta dela) para o povo de Israel.
A questão central é por que o Cronista destaca essa oração de Salomão e a resposta de Deus. Em um momento em que o Templo de Salomão havia sido destruído e um novo estava sendo reconstruído, questionava-se se as mesmas promessas ainda seriam válidas. O relato de Salomão, alinhado ao objetivo de 2 Crônicas, é um chamado ao povo para retornar a essa fidelidade, questionando se Deus curaria sua terra em resposta.
Essa promessa específica a um povo e a um momento histórico também reflete um princípio mais amplo: Deus responde quando uma nação ou indivíduos se voltam para Ele em humildade. Essa resposta divina é um tema recorrente, apontando para a redenção final em Cristo, que não se limita ao Templo de Salomão ou ao Segundo Templo, mas aponta para algo maior – o Emanuel, “Deus conosco”.
Em Jesus, vemos a realização final dessas esperanças e promessas. Ao nos voltarmos para Cristo, experimentamos a redenção que transcende qualquer cura nacionalista, entrando no reino eterno de Deus.