O divórcio é um tema delicado e controverso na sociedade atual. Muitas pessoas se casam com a esperança de ter um relacionamento feliz e duradouro, mas acabam se separando por diversos motivos. Como cristãos, devemos buscar a orientação de Deus para lidar com essa questão, e uma das fontes mais importantes é o que Jesus disse sobre o assunto no evangelho de Mateus.
O contexto histórico e cultural do divórcio nos tempos de Jesus
Para entender melhor a visão de Jesus sobre o divórcio, é preciso considerar o contexto histórico e cultural em que ele viveu. Na época de Jesus, o casamento era uma instituição sagrada, estabelecida por Deus desde a criação (Gênesis 2.24). O casamento era um compromisso público e legal entre um homem e uma mulher, que deveriam ser fiéis um ao outro até a morte (Mateus 19.6).
No entanto, havia uma prática comum entre os judeus da época, baseada em uma interpretação de Deuteronômio 24.1-4, que permitia ao homem divorciar-se da sua esposa por qualquer motivo, bastando lhe dar um certificado de divórcio. Essa prática era defendida pelos fariseus da escola de Hillel, que eram mais liberais e tolerantes com o divórcio. Por outro lado, havia os fariseus da escola de Shammai, que eram mais rigorosos e só admitiam o divórcio em caso de adultério.
Além disso, havia uma grande desigualdade entre homens e mulheres na sociedade judaica. As mulheres eram consideradas propriedade dos homens, e não tinham direito de pedir o divórcio. As mulheres divorciadas sofriam discriminação e dificuldade para se sustentar ou se casar novamente.
A resposta de Jesus aos fariseus sobre o divórcio
Diante desse cenário, os fariseus tentaram colocar Jesus à prova, perguntando-lhe se era lícito ao homem divorciar-se da sua esposa por qualquer motivo (Mateus 19.3). A intenção deles era fazer Jesus cair em contradição ou em desacordo com a lei de Moisés.
Jesus, porém, não caiu na armadilha dos fariseus. Ele não se baseou na lei de Deuteronômio 24.1-4, que era uma concessão de Deus diante da dureza do coração humano (Mateus 19.8), mas sim no propósito original de Deus para o casamento, expresso em Gênesis 1.27 e 2.24 (Mateus 19.4-5). Jesus afirmou que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, e os uniu em uma só carne, formando uma aliança indissolúvel. Portanto, o que Deus uniu, ninguém deve separar (Mateus 19.6).
Jesus reconheceu apenas uma exceção para o divórcio: a infidelidade conjugal (Mateus 19.9). A palavra grega usada por Jesus é “pornéia”, que significa imoralidade sexual de qualquer tipo. Nesse caso, o cônjuge inocente tem o direito de se divorciar do cônjuge infiel, mas não é obrigado a fazê-lo. Ele pode optar pelo perdão e pela reconciliação, se houver arrependimento e mudança de atitude do cônjuge infiel.
Jesus também alertou sobre as consequências do divórcio sem motivo justo: quem se divorcia da sua esposa e se casa com outra comete adultério, e quem se casa com a mulher divorciada também comete adultério (Mateus 19.9). Isso mostra que o vínculo matrimonial não é rompido pelo divórcio humano, mas apenas pela morte ou pela infidelidade conjugal.
A reação dos discípulos à resposta de Jesus sobre o divórcio
Os discípulos ficaram surpresos e assustados com a resposta de Jesus sobre o divórcio. Eles acharam que era um ensino muito difícil e exigente, e disseram: “Se essa é a situação entre o homem e sua mulher, é melhor não casar” (Mateus 19.10).
Jesus, então, reconheceu que o seu ensino não era para todos, mas apenas para aqueles a quem foi concedido (Mateus 19.11). Ele disse que há três tipos de eunucos: os que nasceram assim, os que foram feitos assim pelos homens, e os que se fizeram assim por causa do reino dos céus (Mateus 19.12). Os eunucos eram homens castrados ou impotentes, que não podiam se casar ou ter filhos. Jesus usou essa figura para se referir aos que renunciam ao casamento e à família por uma causa maior: o serviço a Deus e ao seu reino.
Jesus não estava exaltando o celibato como superior ao casamento, mas sim mostrando que ambos são dons de Deus, e que cada um deve seguir a vocação que Deus lhe deu. O casamento é um dom para aqueles que querem viver uma união fiel e frutífera com o seu cônjuge, refletindo o amor de Cristo pela sua igreja (Efésios 5.22-33). O celibato é um dom para aqueles que querem se dedicar integralmente à obra de Deus, sem as preocupações e responsabilidades do casamento (1 Coríntios 7.32-35).
A aplicação prática do ensino de Jesus sobre o divórcio
O ensino de Jesus sobre o divórcio nos desafia a valorizar o casamento como uma instituição sagrada e permanente, criada por Deus para a nossa felicidade e para a sua glória. Devemos evitar o divórcio a todo custo, buscando resolver os conflitos e as dificuldades com amor, perdão, diálogo e oração. Devemos também respeitar e apoiar os que passaram pelo divórcio, oferecendo-lhes acolhimento, consolo e orientação. Devemos ainda reconhecer e incentivar os que escolheram o celibato por amor a Deus, honrando-os pela sua dedicação e sacrifício.
Que Deus nos ajude a viver de acordo com a sua vontade, seja no casamento ou no celibato, para que possamos glorificá-lo em tudo o que fazemos.