A justiça social é um tema que tem ganhado cada vez mais relevância na sociedade atual, especialmente diante das desigualdades, violências e opressões que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Mas o que a Bíblia Sagrada Cristã tem a dizer sobre esse assunto? E, mais especificamente, qual era a visão de Jesus sobre a justiça social?
Neste artigo, vamos explorar alguns ensinamentos e exemplos do Filho de Deus que nos mostram como ele se relacionava com as pessoas marginalizadas, excluídas e sofredoras de sua época, e como ele nos convida a fazer o mesmo. Vamos ver também como a justiça social está intimamente ligada ao Reino de Deus, que é o projeto de Deus para restaurar todas as coisas.
Jesus e os pobres
Uma das características mais marcantes da vida e do ministério de Jesus foi o seu amor pelos pobres. Ele mesmo nasceu em uma família pobre, que teve que fugir para o Egito por causa da perseguição do rei Herodes (Mateus 2:13-15). Ele viveu como um carpinteiro, sem ter um lugar para repousar a cabeça (Mateus 8:20). Ele andou com os pescadores, os publicanos, as prostitutas e os leprosos, que eram considerados impuros e indignos pela sociedade judaica (Mateus 9:10-13; 11:19; Marcos 1:40-45).
Jesus não apenas se compadeceu dos pobres, mas também os defendeu dos ricos e poderosos que os exploravam e oprimiam. Ele denunciou os escribas e fariseus que devoravam as casas das viúvas e faziam longas orações para aparecerem (Mateus 23:14). Ele expulsou os cambistas e os vendedores do templo, que transformavam a casa de Deus em um covil de ladrões (Mateus 21:12-13). Ele criticou os ricos que confiavam em suas riquezas e desprezavam os necessitados, como no caso do rico insensato (Lucas 12:13-21) e do rico e Lázaro (Lucas 16:19-31).
Jesus também ensinou aos seus discípulos a importância de compartilhar os bens com os pobres, como uma forma de expressar o amor a Deus e ao próximo. Ele disse que quem quisesse segui-lo deveria vender tudo o que tinha e dar aos pobres (Marcos 10:17-22). Ele elogiou a viúva pobre que deu tudo o que tinha no templo (Marcos 12:41-44). Ele afirmou que quando ajudamos os famintos, os sedentos, os estrangeiros, os nus, os enfermos e os presos, estamos servindo a ele mesmo (Mateus 25:31-46).
Jesus e as mulheres
Outro aspecto notável da visão de Jesus sobre a justiça social foi o seu respeito e valorização das mulheres. Em uma cultura patriarcal e machista, onde as mulheres eram vistas como inferiores e submissas aos homens, Jesus rompeu com os preconceitos e as tradições humanas que as discriminavam.
Jesus teve mulheres entre os seus seguidores, que o acompanhavam e o serviam com seus bens (Lucas 8:1-3). Ele conversou com uma mulher samaritana junto ao poço de Jacó, revelando-se como o Messias e oferecendo-lhe a água da vida (João 4:1-26). Ele perdoou uma mulher adúltera que seria apedrejada pelos judeus, condenando os seus acusadores hipócritas (João 8:1-11). Ele curou uma mulher encurvada que sofria há dezoito anos, chamando-a de filha de Abraão (Lucas 13:10-17). Ele ressuscitou a filha de Jairo, uma menina de doze anos, tocando-a pela mão (Marcos 5:35-43).
Jesus também ensinou às mulheres e reconheceu a sua fé e sabedoria. Ele elogiou a atitude de Maria, que se sentou aos seus pés para ouvir a sua palavra, em contraste com Marta, que estava ocupada com os afazeres domésticos (Lucas 10:38-42). Ele agradeceu a unção que uma mulher pecadora fez em seus pés, como um gesto de amor e gratidão (Lucas 7:36-50). Ele louvou a confissão de fé da mulher siro-fenícia, que implorou pela cura de sua filha (Marcos 7:24-30).
Jesus também honrou as mulheres como as primeiras testemunhas da sua ressurreição. Ele apareceu primeiro a Maria Madalena, que foi ao seu túmulo e o encontrou vazio (João 20:1-18). Ele enviou as mulheres que foram ao sepulcro para anunciar aos discípulos a boa notícia de que ele estava vivo (Mateus 28:1-10).
Jesus e os oprimidos
Por fim, mas não menos importante, a visão de Jesus sobre a justiça social incluía o seu cuidado e libertação dos oprimidos. Ele veio para cumprir as profecias do Antigo Testamento, que anunciavam a vinda do Servo Sofredor, que traria salvação e justiça para os pobres e aflitos (Isaías 42:1-4; 61:1-2). Ele se identificou como o Messias esperado, que proclamaria o ano aceitável do Senhor, libertando os cativos, os cegos, os quebrantados e os oprimidos (Lucas 4:16-21).
Jesus não apenas pregou o evangelho do Reino de Deus, mas também demonstrou o seu poder com sinais e maravilhas. Ele curou todo tipo de enfermidades e doenças, restaurando a saúde e a dignidade das pessoas (Mateus 4:23-25; 9:35-38). Ele expulsou demônios, libertando os endemoninhados da opressão maligna (Marcos 5:1-20; Lucas 8:26-39). Ele acalmou a tempestade, mostrando a sua autoridade sobre a natureza (Marcos 4:35-41). Ele multiplicou pães e peixes, alimentando as multidões famintas (Mateus 14:13-21; 15:32-39). Ele andou sobre as águas, revelando a sua divindade (Mateus 14:22-33).
Jesus também ensinou aos seus discípulos a importância de praticar a justiça e a misericórdia, seguindo o seu exemplo. Ele disse que os bem-aventurados são os humildes, os mansos, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores e os perseguidos por causa da justiça (Mateus 5:3-12). Ele disse que devemos amar os nossos inimigos, fazer o bem aos que nos odeiam, abençoar os que nos amaldiçoam e orar pelos que nos maltratam (Mateus 5:43-48). Ele disse que devemos perdoar uns aos outros setenta vezes sete vezes (Mateus 18:21-35).
Conclusão
A visão de Jesus sobre a justiça social é um convite para seguirmos os seus passos, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. É um desafio para nos envolvermos com as causas dos pobres, das mulheres e dos oprimidos, buscando promover a paz, a igualdade e a dignidade humana. É uma esperança para aguardarmos com fé e paciência a consumação do Reino de Deus, quando ele enxugará dos nossos olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor (Apocalipse 21:1-4).