A primeira carta de Pedro é um dos livros do Novo Testamento que mais fala sobre a natureza da Igreja, ou seja, sobre a identidade, a missão, e a esperança dos cristãos. Pedro escreveu essa carta para encorajar e instruir os cristãos que estavam sofrendo perseguição e discriminação por causa da sua fé em Jesus Cristo. Ele queria que eles soubessem quem eles eram em Deus, e como eles deveriam viver no mundo.
Um dos conceitos mais importantes que Pedro usa para descrever a Igreja é o de povo de Deus. Esse conceito tem as suas raízes no Antigo Testamento, onde Deus escolheu e formou um povo para si, a partir de Abraão, Isaque, e Jacó, e depois através de Moisés, Davi, e os profetas. Esse povo era chamado de Israel, e tinha uma aliança com Deus, baseada na sua graça, na sua lei, e nas suas promessas. Esse povo era o representante de Deus na terra, e tinha a responsabilidade de adorá-lo, de obedecê-lo, e de testemunhar dele diante das nações.
No entanto, esse povo muitas vezes falhou em cumprir a sua vocação, e se desviou de Deus, seguindo outros deuses, praticando a injustiça, e desprezando a sua aliança. Por isso, Deus enviou o seu Filho, Jesus Cristo, para ser o cumprimento da sua aliança, e o salvador do seu povo. Jesus veio como o verdadeiro Israel, o verdadeiro Filho de Deus, e o verdadeiro Servo de Deus, que cumpriu a lei, que sofreu a cruz, e que ressuscitou dos mortos. Jesus inaugurou um novo povo de Deus, formado por todos os que creem nele, judeus e gentios, que são chamados de Igreja, ou seja, a assembleia dos chamados.
Pedro usa esse conceito de povo de Deus para ensinar aos cristãos a sua identidade, a sua missão, e a sua esperança em Cristo. Neste post, vamos ver como Pedro desenvolve esse conceito em sua carta, e como ele se aplica à nossa vida hoje.
A Igreja como povo de Deus na identidade
A primeira coisa que Pedro faz é afirmar a identidade da Igreja como povo de Deus. Ele usa uma série de termos e imagens que mostram como os cristãos são especiais e privilegiados em Deus, e como eles devem se valorizar e se respeitar como tais. Vejamos alguns desses termos e imagens:
- Eleitos: Pedro começa a sua carta chamando os cristãos de eleitos, ou seja, escolhidos por Deus, segundo a sua presciência, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo (1 Pedro 1:1-2). Isso significa que os cristãos são o resultado da iniciativa e do propósito de Deus, que os chamou para fora do mundo, e os separou para si, por meio do seu Espírito e do seu Filho. Os cristãos são eleitos não por mérito próprio, mas por graça divina, e por isso devem ser gratos e humildes diante de Deus.
- Peregrinos: Pedro também chama os cristãos de peregrinos, ou seja, estrangeiros e forasteiros neste mundo (1 Pedro 1:1, 17; 2:11). Isso significa que os cristãos não pertencem a este mundo, mas ao céu, e que eles estão de passagem por esta terra, rumo à sua pátria celestial. Os cristãos são peregrinos não por desprezo ao mundo, mas por esperança em Deus, e por isso devem ser fiéis e prudentes diante do mundo.
- Sacerdócio real: Pedro também chama os cristãos de sacerdócio real, ou seja, um povo que tem acesso direto a Deus, e que tem a função de oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo (1 Pedro 2:5, 9). Isso significa que os cristãos são um povo que tem uma relação íntima e privilegiada com Deus, e que tem a responsabilidade de adorar a Deus, e de interceder pelo mundo. Os cristãos são sacerdotes não por direito próprio, mas por mérito de Cristo, e por isso devem ser santos e piedosos diante de Deus.
- Nação santa: Pedro também chama os cristãos de nação santa, ou seja, um povo que pertence a Deus, e que reflete o seu caráter e a sua vontade (1 Pedro 2:9). Isso significa que os cristãos são um povo que tem uma identidade e uma missão definidas por Deus, e que tem o compromisso de viver de acordo com os seus mandamentos e os seus propósitos. Os cristãos são santos não por esforço próprio, mas por obra de Deus, e por isso devem ser obedientes e zelosos diante de Deus.
- Povo de propriedade exclusiva de Deus: Pedro também chama os cristãos de povo de propriedade exclusiva de Deus, ou seja, um povo que foi comprado por Deus, e que lhe pertence de forma única e especial (1 Pedro 2:9). Isso significa que os cristãos são um povo que tem um valor e um significado incomparáveis para Deus, e que tem a segurança e a proteção do seu amor e do seu cuidado. Os cristãos são propriedade de Deus não por imposição, mas por redenção, e por isso devem ser leais e dedicados a Deus.
Esses e outros termos e imagens que Pedro usa para descrever a Igreja como povo de Deus mostram como os cristãos têm uma identidade nobre e digna em Deus, e como eles devem se reconhecer e se valorizar como tais. Eles também mostram como os cristãos têm uma identidade distinta e diferente do mundo, e como eles devem se diferenciar e se destacar como tais. A Igreja é o povo de Deus na sua identidade, e por isso deve se orgulhar e se honrar dessa identidade.
A Igreja como povo de Deus na missão
A segunda coisa que Pedro faz é afirmar a missão da Igreja como povo de Deus. Ele usa uma série de termos e imagens que mostram como os cristãos são chamados e enviados por Deus, e como eles devem servir e testemunhar de Deus no mundo. Vejamos alguns desses termos e imagens:
- Gerados de novo: Pedro diz que os cristãos foram gerados de novo, ou seja, nascidos de novo, para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (1 Pedro 1:3). Isso significa que os cristãos são o resultado de uma nova criação, de uma nova vida, de uma nova natureza, que Deus lhes deu, por meio da sua Palavra e do seu Espírito. Os cristãos são gerados de novo não para si mesmos, mas para Deus, e por isso devem viver para a sua glória e para o seu louvor.
- Herdeiros: Pedro diz que os cristãos são herdeiros, ou seja, co-herdeiros com Cristo, de uma herança incorruptível, incontaminável, e imarcescível, reservada nos céus (1 Pedro 1:4). Isso significa que os cristãos são participantes da promessa e da bênção de Deus, que ele lhes garantiu, por meio da sua graça e da sua fidelidade. Os cristãos são herdeiros não por merecimento, mas por adoção, e por isso devem ser gratos e confiantes em Deus.
- Peregrinos: Pedro diz que os cristãos são peregrinos, ou seja, estrangeiros e forasteiros neste mundo (1 Pedro 1:1, 17; 2:11). Isso significa que os cristãos não pertencem a este mundo, mas ao céu, e que eles estão de passagem por esta terra, rumo à sua pátria celestial. Os cristãos são peregrinos não por desprezo ao mundo, mas por esperança em Deus, e essa esperança os motiva a viver de maneira que honre a Deus, mesmo em meio às dificuldades e tentações. Como peregrinos, eles são chamados a manter uma conduta exemplar entre os pagãos, de modo que, mesmo que sejam acusados de praticar o mal, as boas obras que realizam glorifiquem a Deus no dia da visitação (1 Pedro 2:12). Essa perspectiva de peregrinação enfatiza a temporariedade da estadia na terra e a expectativa do lar eterno com Deus.
- Sacerdócio real e nação santa: Além de serem chamados peregrinos, os cristãos são designados como sacerdócio real e nação santa (1 Pedro 2:9). Como sacerdotes reais, têm o privilégio de se aproximar de Deus diretamente, oferecendo-lhe sacrifícios espirituais que são aceitáveis por meio de Jesus Cristo. Essa função sacerdotal implica em uma vida de intercessão, louvor e serviço dedicado a Deus e ao próximo. Como nação santa, os cristãos são separados para viver de acordo com os padrões divinos, refletindo o caráter e os valores do reino de Deus em um mundo que muitas vezes os rejeita. Isso envolve uma chamada para proclamar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2:9), testemunhando a transformação que Deus opera na vida daqueles que crêem.
- Testemunhas de Cristo: A missão dos cristãos não se limita a viver uma vida santa e separada; estende-se também ao testemunho ativo de Cristo. Pedro exorta os cristãos a estarem sempre preparados para dar razão da esperança que há neles, mas com mansidão e temor (1 Pedro 3:15). Isso implica em uma disposição para compartilhar o evangelho e a própria experiência da salvação de forma respeitosa e gentil, especialmente em um contexto de perseguição e oposição. A vida e as palavras dos cristãos devem trabalhar juntas para testemunhar a verdade e o poder do evangelho.
- Resposta ao sofrimento: Pedro dá uma atenção especial à maneira como os cristãos devem responder ao sofrimento por causa de sua fé. Ele os encoraja a considerar o sofrimento por causa da justiça uma bênção (1 Pedro 3:14) e a seguir o exemplo de Cristo, que sofreu injustamente, mas confiou-se àquele que julga justamente (1 Pedro 2:23). O sofrimento, segundo Pedro, é uma oportunidade para aprofundar a confiança em Deus e para testemunhar a fé de maneira poderosa, sabendo que Deus usará até mesmo as circunstâncias mais adversas para o bem daqueles que o amam.
Conclusão
A primeira carta de Pedro oferece uma visão abrangente e profundamente encorajadora da identidade e missão da Igreja como povo de Deus. Os cristãos são chamados a viver como eleitos, peregrinos, sacerdotes reais, nação santa, e testemunhas de Cristo, refletindo o caráter de Deus e anunciando o evangelho em meio a um mundo que precisa desesperadamente da esperança que só pode ser encontrada em Jesus. A carta de Pedro desafia os cristãos a abraçar sua identidade e missão com gratidão, humildade, e coragem, confiando em Deus para guiá-los e sustentá-los em sua jornada terrena rumo à eternidade.